domingo, 18 de setembro de 2011

A simplicidade voluntária numa praça de Urubamba...


A simplicidade voluntária é um estilo de comportamento que tem se baseado na opção por uma vida mais simples, com menos sofisticações desnecessárias. Esse movimento tem surgido como uma resposta prática ao risco da sempre iminente insaciabilidade humana... Explico melhor: na última viagem, depois de quatro dias de paisagens fantásticas, experiências marcantes, pessoas incríveis, pratos exóticos, um dos membros do grupo asseverou, faltando algumas horas apenas para o regresso ao Brasil. Tentarei narrar suas palavras num discurso direto livre:


-Pra mim, até agora, a viagem tá "boazinha". Pra ficar "legal" precisaria comprar umas lembrancinhas. (e aqui explico: bugingangas mesmo!)


Dessa vez, fomos ao Vale Sagrado, no Peru. É uma região de assentamento antrópico que se desenvolveu ao longo do rio Vilcanota, que dá origem ao majestoso Amazonas. As principais cidades Incas estão ao longo do rio. Machu Picchu (que significa montanha velha, em quéchua) é o principal dos sítios arqueológicos da região. Na década de 80, a Unesco incluiu as ruínas no acervo do "Patrimônio da Humanidade". Há alguns anos, ganhou o título de uma das sete maravilhas do mundo moderno.

Ruínas incas de Machu Picchu (2011)

Rio Vilcanota corre ao longo do Vale Sagrado dos Incas (2011)
Como todos já devem saber, o Viagens & Reflexões tem uma predileção e carinho especial pelo Peru. Alguns membros de nossa equipe já asseveraram: se o Peru fosse um "filme", conquistaria provavelmente uma "estatueta" de "melhor fotografia"...

Passemos aos detalhes práticos da viagem: 

Numa viagem ao Vale Sagrado, no Peru, a estruturação prévia do planejamento aéreo vale ouro: os bilhetes para Cusco (aeroporto mais próximo à Machu Picchu) são caros. Por isso, vale muito a pena planejar com antecedência. Há vários vôos diretos até Lima, partindo de São Paulo, Rio e Brasília. Para chegar à Cusco, a maioria faz conexão em Lima.  


O planejamento também inclui a posição das poltronas no avião. Quando se viaja à América do Sul, a países como Chile ou Peru, a viagem em si já é um atrativo singular, já que é possível contemplar a imponência da Cordilheira dos Andes. A dica de ouro no Check-in é a seguinte: se estiver fazendo trechos cuja direção é leste-oeste (ex.: Brasília-Lima, São Paulo-Santiago do Chile), peça poltronas situadas nas janelas do lado direito da aeronave!  Caso a direção do vôo seja oeste-leste (ex.: Lima-Cusco), peça poltronas situadas nas janelas do lado esquerdo da aeronave! Fácil? Pode ter certeza de que vale a pena! Dá uma olhada no visual das imagens abaixo registradas:

Cordilheira dos Andes (2011)

Cordilheira dos Andes (2011)

Cordilheira dos Andes (2011)

Cordilheira dos Andes (2011)
De Cusco, há duas opções para chegar a Aguas Calientes (ou Machu Picchu Pueblo, povoado mais próximo às ruínas).  Uma informação financeira: a cotação entre reais e novos sóis (moeda peruana), em 16/set/2011, era de aproximadamente 1,5 nuevos soles por Real.

A primeira opção se divide em três fases: 1) de Cusco até Urubamba, de ônibus que sai da estação Pavitos e custa S./4 (quatro nuevos soles); 2) de Urubamba até Ollantaytambo, de "vans" que fazem o trajeto, que custa S./ 1,30 (Um novo sol e trinta centavos) e 3) de Ollantaytambo até Aguas Calientes, de trem, pela PeruRail, o que sai por quase USD 40 (quarenta dólares). Aqui vai um "elogio" à PeruRail: tanto o preço quanto o padrão de serviço são "de primeiro mundo" (quem administra a PeruRail, a despeito do nome é a européia OrientExpress). 


Registro importante: É óbvio que na primeira opção não se deve desperdiçar a possibilidade de conhecer tanto Urubamba (e seu ritmo em "câmera lenta") quanto Ollantaytambo, que é conhecida como a cidade inca viva. Sua estrutura urbana é original e data da América pré-hispânica. Esta opção vai demandar tempo! Tanto para os traslados quanto para o tempo necessário às caminhadas pelas cidades de Urubamba e Ollantaytambo, no Vale. Quanto aos traslados, não se deve esperar um serviço expresso das vans ou dos ônibus que fazem o trajeto. Não estamos falando da OrientExpress! Em compensação, o contato real com a população peruana (que naquela região descende dos incas) é algo marcante! Pessoas muito cordiais. Ou seja, pode até parecer perda de tempo, mas no fundo está se ganhando tempo e experiências inesquecíveis...

A segunda opção, bem mais rápida, é tomar um taxi, por S./30 (trinta nuevos soles) do hotel em Cusco até a estação Poroy, que está a vinte minutos do centro da cidade e, de lá, tomar o trem (pela PeruRail, também) até Aguas Calientes, aí sai por aproximadamente uns USD 70 (setenta dólares). Nesta, ganha-se tempo mas perde-se uma experiência incrível!



Nesta viagem, tivemos a possibilidade de vivenciar as duas situações e por tal razão, pode-se dizer que entrar em contato com a vida real das populações locais é algo inestimável...


Atualmente, quem quer visitar as ruínas de MachuPicchu deve estar atento ao seguinte ponto: em razão do controle de acessos, está limitado ao número de 2.500 visitantes por dia. Por isso, quando estiver planejando a viagem, ainda aqui no Brasil, vale a pena entrar no site: http://www.machupicchu.gob.pe/. Daí, só depois deve-se proceder à compra dos bilhetes de trem pela PeruRail

Outra dica em favor das boas fotos, nos trens da PeruRail: é fundamental estar sentado à esquerda do trem (seja partindo de Poroy ou de Ollantaytambo, com destino a Aguas Calientes). Assim, pode-se acompanhar o percurso do Vilcanota. Caso esteja disposto a investir mesmo no visual, há um trem chamado Vistadome (que equivaleria a "classe executiva"), que tem janelas no teto e que servem para alcançar as incríveis visões da Cordilheira bem acima do trem. O detalhe de ouro: a maior parte dos bilhetes Expedition (que equivaleria a "classe econômica") é operado em vagões do VistaDome. Ou seja, se tiver coragem e gostar de correr riscos, pode-se comprar o Expedition, economizar uns dolares e ainda levar o mesmo visual dos que pagaram pela "executiva". Dá uma olhada:

Rio Vilcanota, Vale Sagrado dos Incas (2011)

Um dos picos dos Andes, visto das janelas do teto do trem, Vale Sagrado (2011)
No destino, Aguas Calientes, existem muitos hotéis, pousadas, restaurantes e um clima extremamente agradável, já que estamos falando de uma área muito menos árida. No povoado há termas públicas mantidas pela prefeitura local em que se pode entrar pagando apenas S./ 10 (dez novos sóis). Uma dica importante: se você já esteve na Pousada do Rio Quente ou nas Termas de Araxá, por favor esqueça delas pra aproveitar as termas de Aguas Calientes. Não dá pra comparar! O grande valor delas está no fato de que propiciam um relaxamento fundamental para quem subiu cada um dos milhares de degraus na visita à MachuPicchu. Comparar, às vezes, não é produtivo!

E aqui chegamos à conclusão de nosso texto: hoje, já de volta ao Brasil, tive a oportunidade de assistir ao filme Larry Crowne, de Tom Hanks, onde há uma cena curiosa que dá início à "reestruturação" da vida do protagonista, no filme. Desempregado, vai ao posto de gasolina abastecer seu carro e descobre que não dá pra "viver" gastando tantos "galões de combustível", cotidianamente... Decide comprar uma lambreta!


Na cena, lembrei-me instantaneamente de uma personalidade marcante que teve contato com nossa equipe, numa pracinha de Urubamba, no meio do Vale Sagrado. Um cidadão europeu que decidiu viver com menos. Bem sucedido na carreira executiva, optou por "desacelerar". E isso é marcante: a pracinha de Urubamba é como uma daquelas cenas em "câmera lenta", que ficam registradas em nossa mente pelo resto de nossas vidas. Seja pela altitude, seja pela falta de oxigênio em abundância, seja pela opção, todos que ali estavam, estavam vivendo num ritmo menos alucinante...


Vista da praça central de Urubamba, com os Andes ao fundo (2011)

A sesta e a baixa velocidade de Urubamba (2011)

É nestes momentos em que se tem a certeza de que o "ato de viajar" é o maior promotor de contatos extraordinários de nossas vidas. 


Nesta viagem, dedicamos uma homenagem especial a duas figuras extraordinárias: uma amiga peruana, que tivemos a oportunidade de conhecer durante o regresso entre Urubamba e Cusco, a quem agradecemos pelas palavras em favor da vocação humana, e ao cidadão europeu que hoje vive, voluntariamente simples, no Vale Sagrado e serve de exemplo e contraponto ao padrão. 

4 comentários:

  1. Pôxa Mauro, que descrição irretocável. Gostei da reflexão sobre a insaciabilidade humana aplicada ao contexto peruano. Parabéns por esse blog singular.

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  2. O que dizer...fiquei babando com todas as fotos que Renato me mostrou,os lugares que vocês passaram e as fotos,tudo lindo...tirando o porquinho da india (acho que é cuyo ne?) que vcs comeram?preferia que fosse um rato que é feio o porquinho é bonitinho e da pena de matar!!!beijo!

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  3. Sou fã do blog do meu amigo viajante. Cada postagem, além de nos transportar para lugares diferentes, nos faz penetrar um pouco nas peculiaridades/diferenças do ser humano. Essas reflexões nos fazem crescer e rever nossos conceitos X preconceitos.
    Depois dessa leitura, fiquei com vontade de voltar ao Peru.

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  4. Solange,
    Obrigado pelas generosas palavras. Eu é que sou fã de nossos diálogos. Você tem o dom do contraponto elegante, convergindo sempre ao objetivo maior do "ser humano": viver em paz. Discordar, simplesmente, é fácil. Mostrar o outro lado, com elegância, é uma arte... Parabéns e muito obrigado minha amiga e artista!

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