quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Amyr Klink, Caracas, e uma lição sobre preconceito...

Há algumas semanas, li um texto de Amyr Klink que gostaria de transcrever:

"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”.

Há vários anos, venho acompanhando o desenrolar de acontecimentos na Venezuela. As informações que são apresentadas pelos veículos de comunicação no Brasil dão conta de problemas muito graves de segurança e de instabilidade política severa. Fui ver com meus olhos... Ao final, relato minha impressão.

No início do ano, participei de um evento cultural promovido pela embaixada da Venezuela, em Brasília. No evento, houve apresentações de artesanato, música popular venezuelana (sugiro ao leitor pesquisar no youtube o grupo Caracas Sincrônica, de uma espetacular musicalidade) e um festival gastronômico, em que se pôde degustar a culinária típica daquele país. Tudo tão espetacular que em alguns meses, estava eu em Caracas. É importante frisar: sem patrocínio algum!

Detalhes práticos: 

De Brasília, há vôos diretos entre várias cidades da América do Sul, o que em logística se denomina "economia de Hub" e no seu bolso significa (R$$$$$) a mais... Quando se está numa cidade que conta com muitas opções de vôos e companhias aéreas, sua chance de conseguir promoções aumenta. O trecho aéreo entre Brasília e Caracas (ida e volta), saiu por menos de mil reais, pela Copa Airlines. E aí vai outra dica: a Copa tem sua base de operações no Panamá. Então adivinha qual foi o "plus adicional a mais"? É isso aí: conhecemos o Panamá, sem necessidade de pagar nada mais por isso. Já que a conexão entre os vôos de Brasília ao Panamá e de lá até Caracas pode ser programada com intervalo mínimo necessário à visita da Cidade do Panamá, visitamos o Canal do Panamá e o Casco Antiguo, que é o centro histórico da cidade. 

Quanto à hospedagem, Caracas tem excelentes hotéis mas o preço médio é alto. Provavelmente, chega-se à conclusão de que é melhor reservar um hotel de alto padrão, tentando barganhar alguma promoção do que tentar reservar hotéis mais simples, que têm tarifas relativamente caras. 

Do ponto de vista prático, reservamos dois hotéis pelo site decolar.com: Na média, conseguimos uma diária em torno de R$200, em quarto duplo, hotel de alto padrão (5*). A equipe reservou quartos em dois deles: o GranMeliá Caracas e o Eurobuilding Suites. Resumo: se for, reserve com bastante antecedência, tentando verificar as promoções em hotéis mais sofisticados, já que a média de preços é (naturalmente elevada), os caros se tornam relativamente "baratos"...

Quanto ao transporte público, é espetacular: o metrô de Caracas é considerado (com mérito e justiça)  um dos melhores da América do Sul. Há um sistema de transporte rodoviário que se integra do metrô e torna a vida do visitante muito mais fácil. Para se ter uma ideia de como é fácil se locomover, desde o Eurobuilding pode se tomar um metrobus (que se interliga com a estação de Metrô) e custa apenas um bolivar fuerte (o que valia aprox. 40 centavos de real, no início de novembro/2011). Ou seja, em Caracas, transporte público é muito barato e a qualidade é alta. Duas observações apenas: há um sistema de transporte alternativo que não conta com a mesma regularidade e frequência e o trânsito é tenso. Muitos engarrafamentos e congestionamentos incitam você (muitas vezes) a descer e ir caminhando mesmo. Por isso, o metrô é tão valioso: permite que você consiga cruzar a cidade, sem ficar parado por horas a fio...


Quanto à alimentação, sem sustos. Preço honesto e culinária que deixa saudades.


Agora, o mais importante: as atrações de Caracas.


Muitos já devem ter se perguntado: o que "cargas d'água" se vai visitar em Caracas? O problema é a velha análise de custo-benefício do destino venezuelano. Como há um batalhão de veículos de comunicação sinalizando quanto aos seus riscos urbanos, e poucos mostrando as coisas que valem a pena ser visitadas, poucos são os brasileiros que têm optado pela cidade como destino turístico. 


Observamos uma dinâmica perversa: por exemplo, todos os incentivos sinalizados em relação à Colômbia são proporcionais ao "desincentivo" relativo à Venezuela. De acordo com percepções dos colaboradores do Viagens & Reflexões, a mídia tende a "confundir sua avaliação" sobre o líder político com a do país propriamente dito. Como o presidente Hugo Chavez Frias não é tão estimado por D. Mainard e Cia Ltda., a Venezuela tem sido relegada a um injusto "segundo" (para não falar em terceiro ou quarto) plano... O que é - sinceramente - uma pena. Vejamos o porquê:


O roteiro básico para quatro dias na capital seguiu o seguinte cronograma:


1º dia: visita ao centro histórico de Caracas. Várias atrações artísticas, históricas, culturais e arquitetônicas. Destaque para rede pública de livrarias populares, com livros importantes para formação cultural da América Latina, com preços absolutamente acessíveis.


2º dia: visita à cidade de La Guaira, que sedia o principal porto do país. De lá, em poucos minutos, é possível visitar várias praias do Caribe venezuelano. O azul turquesa não desaponta...


3º dia: visita aos jardins e boulevards de Caracas e subida ao teleférico que garante vista privilegiada de toda cidade de Caracas. Simplesmente, formidável. O teleférico é segmentado em fases e sobe mais de 2 mil metros, em todas as etapas. A proximidade do clima de montanha, com acesso tão facilitado são aspectos não desprezíveis. 


4º dia: pausa para o descanso e aproveitamento da infraestrutura hoteleira disponível., conforme nossa dica sobre hotelaria acima. Ninguém é de ferro...


Como diria Klink, é preciso viajar e ver com seus olhos, pois o risco de se tornar doutor do que não se conhece (efetivamente) é grande demais. Caracas, diferentemente, do que se poderia imaginar (pelos relatos midiáticos) vale muito a pena...


Suerte!