quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Entre a Índia, a Nasa e o sistema solar com sete planetas como a Terra.

Para entender do que se tratará adiante, sugerimos a leitura à matéria publicada no jornal El País, dentre muitos outros veículos de mídia: 

http://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/22/ciencia/1487783042_037999.html

Essa notícia faz pensar sobre muita coisa... E, pensando bem, preocupa.

Há algumas semanas visitamos o Kennedy Space Center na Flórida/EUA e, pesquisando sobre publicações da NASA disponíveis, percebi um cartaz antigo (publicado há décadas) que dizia de forma direta: aproveite o oásis do sistema solar, em que respirar é fácil e gratuito: Planeta Terra. Esse cartaz me fez ponderar sobre a absoluta pertinência e sabedoria contida naquele pequeno cartaz. Embora a corrida espacial (inaugurada na segunda metade do século XX) tenha deslocado as lentes de atenção humana para lugares muito afastados, áridos e estéreis (despendendo-se muita riqueza nesta busca intergalática) a sugestão subliminar era de que os humanos (se tenentes à sabedoria...) deveriam se dedicar à contemplação e valorização daquilo que temos como (até então, e também até agora) único local propício à continuidade da vida: O Planeta Terra.

Ontem, tive a oportunidade de visitar pela trilha cinematográfica uma obra inquietante: Lion. Filme que é titularizado pelo nome do autor do livro que baseou o roteiro: Saroo Brierley (cuja fonética se aproxima de "sher", cuja tradução significa leão em hindi). Em suma, o roteiro é por ele mesmo escrito, inspirado em fatos reais. O ponto crucial, contudo para além das questões linguísticas, dirige-se ao impacto que a revisita a Índia causa a quem não estiver preparado. 

Estivemos em 2012 no subcontinente indiano e o impacto é indescritível! A Índia é superlativa em qualquer aspecto: demográfico, religioso, econômico, cultural, social, enfim: qualquer aspecto. Particularmente, o adensamento populacional de cidades como Nova Déli causa espécie a quem não foi devida e convenientemente avisado. Por sinal, visitei a estação de trens, localizada na área da Antiga Déli, e por razão do festival de Kumbha Mela tive a sensação de que grandes multidões assustam. Ponto. (Detalhe: se algum brasileiro acredita entender do que se trata, por já ter passado algumas horas dentro de algum estádio de futebol, esqueça. É de outra coisa que aqui se trata...).

Assustam por uma razão: na grande aglomerado humano, sentimo-nos completamente perdidos e frágeis. Eis que ontem, ao revisitar a Índia pelas lentes do autor da obra cinematográfica, percebi que o ponto mais doloroso da desumanização reside nesta estrutura massificada e despersonificada em que transitam milhões de pessoas. O roteiro do filme trata disso, entre outras coisas: o desencontro, o sentimento de perda, de vulnerabilidade ao mal de pequenas indiferenças, de grandes perversidades e todas as terríveis consequências causadas a uma criança, em sua primeira infância.

Enfim, salta ao olhar a percepção de que a abundância (paradoxal e inexoravelmente) termina por fazer ruir o valor intrínseco daquilo que é observado. Nesta linha, deixando implícita qualquer consideração axiológica sobre os destinos dados à riqueza produzida pela espécie humana e sua (eventualmente, inadequada) aplicação a demandas e problemas básicos que tornam a vida de alguns um inferno laborioso, enquanto a de outros um paraíso enfadonho. Qualquer dúvida sobre este parágrafo-desabafo, sinta-se à vontade para assistir ao filme. Vale muito a pena!

É neste ponto que, ao final desta tarde, sinto o perigo (pra não dizer pior, dada a natureza humana que lida de forma pouco madura com a abundância) de pensar que há outros planetas disponíveis... Se reflexões pela conservação dos valores deste planeta (que dão e são a base de sustentação da vida) não tem conseguido ser conveniente e efetivamente endereçadas ao longo das últimas décadas, imagine-se agora com um novo argumento na mesa: "não há problema! temos outra Terra nova em folha..." ou "esta aqui já está velha, pra quê conservar?" Isso faz pensar, e no cenário atual, temer pelo porvir